sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O Livro

Acordo de madrugada, apavorada.
Pesadelo esquecido mas aterrorizante e com efeitos de insônia iminente.
Corajosa, ergo-me, apesar do frio, do cansaço e dirijo-me ao escritório – procurar a companhia dos livros.
Outro susto !
Um livro caído, aberto, escrachadamente indefeso no chão.
Olho para os lados, mas ninguém está ali. O sono inocente da gata a absolve de qualquer culpa.
Com delicadeza imensa, recolho em minhas mãos e começo a verificar os danos.
O corpo gela, faltam páginas. Um espaço enorme entre a página 46 e a 52.
Quem foi?
Foi o vento, uma tempestade, algum efeito sobrenatural?
Choro pelas páginas perdidas – será que conseguirei lembrar-me do que estava lá? Quem poderá ter lido antes de mim?
Ele está pousado em meus braços, esperando uma iniciativa, um gesto, algo.
Um livro aleijado. Mas vai se adaptar e passar despercebido no meio de todos aqueles livros perfeitos.
Recoloco-o na estante em um lugar de destaque pra me lembrar: melhor abandonar a maleabilidade da brochura e emoldurar com uma capa dura, bem dura. Reforçar a estrutura é o único jeito pra não desabar.
Apago a luz e deixo-o lá, aguardando o dia amanhecer....