segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Primeiro Milagre do Michael Jackson



O Primeiro Milagre do Michael Jackson


Calma! Leia tudo, até o final e depois conclua se tenho razão ou não.
Não sou católica e nem vou reivindicar, junto ao Vaticano, a canonização do menino.

Estando eu em uma viagem ao exterior, que hoje todo mundo pode fazer, fui “apreendida” no check in da imigração.

Como todo mundo pode? Pontos de Smiles (Gol/Air France). Basta usar loucamente seu cartão de crédito, como você já faz normalmente, e no final de mais ou menos dois anos terá os pontos suficientes para a passagem (nem que seja só de ida).

Voltando à viagem, em Paris resolvi comprar alguns LP’s para incrementar minha humilde coleção.
Malas prontas, claro que optei por levá-los em uma sacola de mão, de lona preta, própria para acondicioná-los.
Correria para o aeroporto Charles de Gaulle em uma vã lotada de estrangeiros, papo agradável com um japonês que conhecia o Brasil.

Mais uma pausa: estou estudando inglês há quatro anos, uma aula individual por semana, então apesar do pouco domínio da língua, me viro bem (palavras do simpático japonezinho).

Chegada ao aeroporto, mais correria para a fila da imigração. Você não tem idéia do que é? Tira os sapatos (em pé mesmo, não tem lugar para fazer isto), o cinto, celular, pulseiras de metal, colares, brincos, e coloca sua bolsa e todos os objetos de mão em uma cesta de plástico enorme (que depois vai ser você mesma a carregar).
À minha frente uma indiana que não tem mais aonde ter brincos, piercings, colares, pulseiras.... Meu Deus ajude-nos! Começamos a rezar, pois se ela tivesse que tirar tudo aquilo, ninguém embarcaria. Foram sensatos, mesmo porque tinham peças que só sairiam cirurgicamente.
Eu a próxima. Quase nua, dirijo-me ao detector. Enquanto caminho, uma policial vai me acompanhando e perguntando o que tinha na sacola preta.

- What’s inside of your black bag?
- Long Plays
- What?
- Some Vinyls
- Eletronics?
- Eu: what?


Olho para minha amiga e começo a ficar vermelha. Fico sempre assim, desde pequena, quando fico com vergonha ou com raiva.
Passo incólume pelo detector, calço os sapatos, coloco o cinto, mas não me devolvem a cesta.
Foi apreendida para verificação.
Ela já está em uma bancada, com outra policial, enorme, esperando minhas explicações. Imagina a Beyoncé (que agora todos conhecem) com 30 quilos a mais! Era ela!

- Do you speak English?
-Just a little.

Apontando para minhas coisas ela diz:
- Put everything out (ou Pull out everything? Esqueci)

Nesta altura, metade do aeroporto está olhando para mim, esperando o que vai sair de lá.
Esvazio minha frasqueira, cheia daqueles vidrinhos homeopáticos (devidamente acondicionados nos sacos zip) com bolinhas brancas dentro, batom, colírio, etc, etc. Ela olhando horrorizada, coloca as mãos na cintura, apalpando revólver, algemas, e sei lá mais o quê.
Aí minha mente entra em ebulição. Como se diz? Homepatic? “Layer” eu vou precisar. “One phone call” para a embaixada, Embassy?
Meu instinto “serial killer” aflorando, devidamente controlado pelos olhares suplicantes da minha amiga.
Enfim começo a retirar os LPs da sacola, cuidadosamente, porque mesmo presa, vou querer ficar com eles no futuro.
Os primeiros a sair são Nina Simone, Sarah Vaughan (que confesso estou aprendendo a ouvir) e a trilha sonora de Lolita.
Aí surge Michael Jackson, este mesmo da foto acima, majestoso.
A policial abre um sorriso de orelha a orelha e diz:
Oh, that’s it!
E vai embora, com o olhar de que me achava uma perfeita ignorante por não conseguir explicar, em inglês, o que eram Long Plays, deixando toda aquela bagunça para eu arrumar.
Por puro milagre, não fui presa como terrorista.
Graças a ele!


The End