sábado, 17 de abril de 2010

SAIA JUSTA


SAIA JUSTA

Que me perdoem as meninas cujo programa possui o mesmo nome, e respeitando todos os direitos autorais que por acaso existam, preciso nomear este texto assim.

Não cabe outra expressão que não esta.

Vamos aos fatos.

Tempos atrás, resolvi submeter-me a uma cirurgia de correção de miopia numa quinta-feira (da qual me arrependo amargamente, mas isto não vem ao caso). Após 12h, com a retirada da proteção ocular, você passa a enxergar perfeitamente.

No sábado haveria um encontro em comemoração aos 20 anos da minha turma do segundo grau do colégio, mas ainda não havia confirmado minha presença.

(Curiosa em saber o ano? Não conto minha idade de jeito nenhum!)

Após as devidas recomendações médicas de não levar nenhum tapa na cara, e ciente de que este tipo de baixaria não aconteceria lá, resolvi ir.

Sábado de manhã, dia de mulherzinha - fui fazer uma escova poderosa (nessa época não havia escova progressiva).

Marquei um encontro com duas colegas que continuavam a ser minhas amigas, pois moravam na mesma rua. Usando jeans strech, coladíssimo, para provar que ainda estava em forma, rumamos para o evento.

Era em um clube. Na quadra, com cadeiras e mesas em volta, ambiente na penumbra, luzes coloridas piscando, música anos 70, pensei: vou me divertir!

Sentamo-nos em uma mesa, e começou a peregrinação...primeiro as “meninas” - quase todas as morenas estavam louras agora.

Gente, minha memória sempre foi péssima; não lembro nomes, aniversários, etc. Minhas amigas sabedoras desta minha virtude, ciceroneavam minha memória, chamando alto pelo nome assim que alguém se aproximava.

MULHERES não mudam muito após 20 anos. Sério, é verdade. No máximo ficam gordinhas ou louras, e estas ainda não haviam passado pela transformação da operação plástica. Após alguns minutos de conversa, me lembrei de todas elas.

O nosso trio sempre esteve constante na sala do diretor à beira da expulsão do ambiente escolar – motivo de nossa popularidade. Todas vinham à nossa mesa, uma a uma, para grandes e longos abraços.

Aí, aproxima-se o primeiro homem. Sorriso aberto, barriga enorme, calvo, óculos de armação negra de tartaruga esquisitíssimos, abrindo enormes braços para me abraçar. Eu, em pânico, procuro pelas meninas-memória que haviam saído para buscar chope.

- Querida Ela, você está linda, só vim aqui para lhe encontrar...

- (Oh Meu Deus, quem é esse cara?) Ai, que bom te ver...

- Como vai Dona Lourdes, sua mãe? Encontrei com sua irmã Bete há algum tempo atrás e perguntei por você.

Os sintomas precoces da menopausa explodiram em mim: ondas de calor invadindo meu corpo e rosto, sensação de leve desconforto, uma dor de cabeça lá no fundinho prestes a começar...Jesus me ajude, alguém, cadê aquelas miseráveis?

- Ah, ela vai bem, (será que pergunto pela sua mãe?) E sua família como vai?

O sorriso dele começa a ficar amarelo...

- Você não se lembra de mim?

- Claro que me lembro...

Aparecem as ébrias das minhas amigas gritando em uníssono: Luiiiís, você está aqui!!!

Beijos, abraços efusivos, elas rindo da minha cara de espanto ao ver tanta intimidade entre eles...e enfim lembrei: o tal do Luís tinha sido o namorado das duas, não ao mesmo tempo claro, e eu já havia saído com eles inúmeras vezes e ele sempre dizia que um dia eu seria a próxima....

O Luís de 20 anos atrás era o rapaz mais lindo da escola, bilhete de entrada pra qualquer festinha que surgisse no pedaço. Cabelos longos, corpinho escultural, em nada lembrava aquele homem que ocupava todo o meu espaço de visão agora.

Aberta a porteira, entraram os outros “estranhos”, todos calvos ou carecas, barrigudos, alguns com bigodes enormes, e eu ali abestalhada com tanta variedade de gente sem nome.

HOMENS mudam muito após 20 anos. Sério, é verdade. Eles passam pela transformação hormonal completa e o rosto adquire contornos e rudeza que não possuíam quando eram meninos-rapazes. E esta turma, pelo visto, era formada de churrasqueiros e beberrões de primeira, com genes de calvície dominante. Somente após alguns minutos de conversa, é que conseguia me lembrar de alguns deles.

As meninas rindo e chorando a cântaros do meu desconforto, eu já pedindo pra ir embora daquela tortura psicológica, resolveram inventar a história de que eu ainda não estava enxergando muito bem por causa da cirurgia.

Todos respiraram aliviados com a explicação, menos eu, que continuava me sentindo uma alienígena naquele planeta-quadra.

Ao sairmos, para enfatizar, apoiei minha mão no ombro de uma delas, e enfim sorri aliviada com o final da festa.