quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TREM OU CANOA FURADA

Depois de um longo tempo sem aparecer por aqui, este será longo. Então se não tiver tempo, volte mais tarde.

O mote que me trouxe de volta, foi a imagem de um piloto de fórmula 1, com a voz embargada, tomando consciência da viagem que deixou passar há algum tempo atrás, apesar de ter tentado um passeio curto numa viagem que não substituiu em nada a outra que perdeu.
Ele não estava feliz.
Sou de Minas, Belo Horizonte, terra protegida por montanhas, rica em minério e em sábios ditados populares.

Mineiro não perde o trem e nem embarca em canoa furada!
Há dois sentidos para “perder o trem”: não chegar atrasado e não perder a chance.

O trem passa algumas vezes na vida e devemos subir nele também algumas vezes.
São situações de risco seja no campo amoroso ou profissional.

Eu sei, é um pouco desconfortável. Serviço de bordo precário, banheiros sofríveis, poltronas durinhas, mas quando olharmos pela janela, e virmos o cenário provocando nossos olhos, teremos a certeza de que valeu a pena. A paisagem é linda, pastagens, bois (você já viu um?), e se aparecer uma família inteira com crianças de barriga de fora e bronzeadas com barro, sorrindo e acenando para você, será êxtase puro.
O precário trenzinho pode até se transformar num Expresso Oriente. Mas também pode transmudar-se em uma canoa furada.
A canoa furada significa a derrota total, isto é, como os franceses expressam: “merde”.
O pior é quando escolhemos a própria canoa furada sabendo que é uma canoa furada. E completando o quadro, um cretino ou cretina, tapando os buracos com fita crepe e a gente acreditando que vamos chegar em segurança na outra margem. Nem mesmo a presença de algumas corcovas, semelhantes a jacarés, nos fazem retroceder.

Tudo opção pessoal!

Mas como saber a diferença entre o trem e a canoa?
Se tem dúvidas e o sexto sentido anda enferrujado, use coletes salva-vidas, vá com calma, e se começar a afundar, não vai se afogar de jeito nenhum. Estes coletes podem ser encontrados em qualquer lojinha de conveniências dos amigos, da família, dos terapeutas, ou comprando pílulas estimulantes de livros, filmes ou meditação.

Sair da zona de conforto para pegar o trem é angustiante (às vezes perde-se o ar...).
Mas não dá para passar a vida inteira tomando lexotan todas as noites para dormir bem e se acalmar, e/ou tylenol todos os dias para não sentir dor.

Arriscar-se. Tem que tentar!
Parênteses: (Sempre não. Há algumas situações de absolutos “nãos”).

Eu já peguei muitos trens, não tantos quando deveria, e um bocado deles "deu água".
Mas este doce gosto de ter feito algo para mudar meu norte, é tão bom quanto usufruir daquilo que deu certo.
Eu fiz. Se não deu certo foi porque não dependia somente da minha vontade, ou porque não havia sintonia no querer.
Ah, como me arrependo de ter deixado alguns trens passarem sem ter nem mesmo comprado a passagem. E os bilhetes picotados com raiva, nas estações em que desembarquei, ainda flutuam na minha mente, agora lembrando o que tive de bom nestas experiências vividas.

Portanto o que vai ser?
Na próxima vez que ouvir o apito do trem prepare-se!
Vai querer embarcar ou não?

...pensando bem, nem foi tão longo assim.