terça-feira, 7 de setembro de 2010

MEDO

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O MEDO

Houaiss: Temor, ansiedade irracional ou fundamentada, receio.

Desde que me entendo por gente, tenho medo de escuro.
Escuridão. Falta total de tudo.

Durante um bom tempo morei em um quarto com mais duas irmãs que odiavam a luz. Eram do bem, mas luz nem pensar.
Dos 4 aos 9 anos era resgatada do chão aos prantos durante as madrugadas escuras. Ninguém sabia o por quê. Diziam que eu comia demais à noite.
Aos 13 anos descobri o que me apavorava: o escuro.
Tinha insônias inexplicáveis para uma jovem saudável. Tentava ficar acordada no meio daquela pavorosa escuridão total, implorando por uma réstia de luz. Eu nunca ia dormir, desmaiava.
Sempre me perguntavam o que eu achava que iria acontecer no escuro. A certeza que iriam aparecer monstros, vampiros, fantasmas, era mais real que tudo na minha vida. Bastava apagar a luz que eles apareciam. A luz me protegia, mas ninguém entendia isto.
Para minha família era por causa dos filmes de terror, ou das revistas em quadrinhos de vampiros que eu colecionava.

Eu era “dark” mas não gostava do negro da noite.

Aos 15 anos, resoluta, dirigi-me ao meu pai, o dono da casa, e fiz um pronunciamento: a partir de hoje vou dormir na sala. Ele não acreditou (ele nunca acreditava em mim):
-Por que vai fazer isto?
-Porque na sala tem a luz da rua.

Passei 365 dias maravilhosos com a luz poderosa da rua entrando em meu quarto adaptado, dormindo que nem um bebê. Aí a família se rebelou por mais espaço na casa e lá fui eu em nova mudança para um vão da escada (mais ou menos que nem o do Harry Potter). Ali coloquei uma luzinha bem fraquinha em um abajour, mas poderosa o suficiente para vencer vampiros, fantasmas e afins. Momentos de paz, de silêncio, de privacidade absoluta, de sono profundo.

[Voltando ao presente.]

Ainda hoje tenho medo do escuro. Já, já fiz terapia (6 longos meses) mas não chegamos a nenhuma conclusão – nem eu e a nem terapeuta.
Vampiros, monstros e fantasmas são hoje seres com os quais consigo conviver na maior harmonia.
Meu pressentimento atual é que possa morrer sufocada no escuro – não há ar onde não há luz – minha “teoria pânica”. Tenho sempre por perto minha arma poderosa: a lanterna. Velas e fósforos (porque são infalíveis e os isqueiros não são) encontram-se espalhados em toda a casa. A luz é meu oxigênio. Adaptei minha vida para conviver com o medo.

[Voltando ao passado para terminar poeticamente...]

Enfim após alguns casamentos na família, e mudanças para outros cômodos, fui promovida e ganhei meu próprio quarto aos 20 e poucos anos. Ao saber da notícia, corri para a papelaria mais equipada do bairro e gastei todas as minhas economias de mais ou menos R$50,00 em adesivos néon para o teto do meu quarto.

Nunca mais escuridão... só estrelas!

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